sábado, julho 01, 2006

A Lição de Luís Filipe

Entre nós, os accionistas não agem, os executivos não executam nem fazem executar, os governantes não governam, os juizes não julgam.
Entre nós, não há decidor que decida: limita-se a tirar a bissectriz de opiniões avulsas. Método manholas que permite, após o inevitável fracasso, alijar a responsabilidade sobre o indeterminado lote de avulsos autores dessas avulsas opiniões.
Assim Portugal se transfigurou em Neverland.
Um extraterrestre brasileiro não entrou neste jogo do sistema. E as vestais do sistema insultaram e escarneceram. Apontaram o dedo e rasgaram as vestes. Antecipando os piores horrores ao hereje
E, agora, estão a engolir em seco.
O que eu tenho visto não é a derrota do México ou do Irão, da Holanda ou de Inglaterra. É a derrota de um sistema e de um espírito que nos está a levar à bancarrota. E a vitória de um conjunto heteróclito de jogadores transformado numa equipa por um homem que lhes insuflou uma alma porque esse homem age, executa, governa e julga. Porque escolhe e assume as responsabilidades das suas escolhas. Porque tem um desígnio e um método para o atingir. Porque esse homem é Alguém e não apenas mais um molusco alimentado-se do casco de um navio naufragado.
Devemos agradecer a Luís Filipe Scolari também o termos chegado onde chegamos neste campeonato do mundo. Mas, principalmente, há que agradecer-lhe ter mostrado aos portugueses o caminho a seguir para que Portugal regresse a si próprio.

domingo, junho 18, 2006

O Coro dos Bastonários Bastonados

Bastonados por Correia de Campos, os ilustres bastonários das "ordens do sector da saúde", em coro plangente no Expresso, apregoam a sua profunda dedicação pela nossa saúde, quanto a ela se dedicam, e quantos riscos ela corre.
Quando vejo um estranho muito preocupado comigo, mão compreensiva no braço, chamo logo a polícia: é carteirista, pela certa.
Já agora, onde estava um dos tão preocupados bastonários - o Dr. Pedro Nunes - quando alguns médicos de Guimarães passaram 700 atestados a outros tantos alunos do 12º ano para estes se baldarem aos exames nacionais? Imagino que imensamente preocupado com a minha saúde, mais com a estranha epidemia que tão gravemente afectou a delicada saúde dos 700 vimaranenses.

sexta-feira, junho 16, 2006

No Barco do Capitão Gancho

Criado por Afonso Henriques, afunilado por Afonso Costa, passado a ferro por Vasco Gonçalves e redesenhado por Walt Disney Portugal é, hoje, Neverland, a Terra do Nunca.
Barrica e o Capitão Gancho - e outros corsários menores, mas não menos ávidos - rasteiram-se no Parlamento, abordam-se em Belém, insultam-se nos jornais, increpam-se nas televisões. Mas há dezenas de anos, por detrás deste cenário irascível, e no silêncio possível, dividem entre si o cada vez mais magro espólio dos sucessivos saques. Debruçada na amurada, caneca de rhum a balançar na mão, a tripulação canta, em coro, “oh Abreu, dá cá o meu…”.
Só que, entretanto, a barrica de rhum está a chegar ao fim, exaurida por uma tripulação de 750.000 marinheiros que dormitam no convés. Restará em breve, para matar a sede, a água do mar.
E Peter Pan? Virá também ele numa manhã de nevoeiro?