sábado, julho 01, 2006

A Lição de Luís Filipe

Entre nós, os accionistas não agem, os executivos não executam nem fazem executar, os governantes não governam, os juizes não julgam.
Entre nós, não há decidor que decida: limita-se a tirar a bissectriz de opiniões avulsas. Método manholas que permite, após o inevitável fracasso, alijar a responsabilidade sobre o indeterminado lote de avulsos autores dessas avulsas opiniões.
Assim Portugal se transfigurou em Neverland.
Um extraterrestre brasileiro não entrou neste jogo do sistema. E as vestais do sistema insultaram e escarneceram. Apontaram o dedo e rasgaram as vestes. Antecipando os piores horrores ao hereje
E, agora, estão a engolir em seco.
O que eu tenho visto não é a derrota do México ou do Irão, da Holanda ou de Inglaterra. É a derrota de um sistema e de um espírito que nos está a levar à bancarrota. E a vitória de um conjunto heteróclito de jogadores transformado numa equipa por um homem que lhes insuflou uma alma porque esse homem age, executa, governa e julga. Porque escolhe e assume as responsabilidades das suas escolhas. Porque tem um desígnio e um método para o atingir. Porque esse homem é Alguém e não apenas mais um molusco alimentado-se do casco de um navio naufragado.
Devemos agradecer a Luís Filipe Scolari também o termos chegado onde chegamos neste campeonato do mundo. Mas, principalmente, há que agradecer-lhe ter mostrado aos portugueses o caminho a seguir para que Portugal regresse a si próprio.